quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A BioWare no seu melhor.
A malta da Bioware gosta de boas estórias. Basta olhar para o seu catálogo de títulos editados para chegar a esta conclusão. Depois de duas incursões bem sucedidas no universo ultra explorado de Star Wars, a companhia canadiana embarca agora no infame mundo das space operas, que tem vindo a recuperar alguma notoriedade devido ao trabalho de autores como Peter F. Hamilton com a sua Night's Dawn Trilogy (The Reality Dysfunction, The Neutronium Alchemist, The Naked God), entre outros.

Para quem não conhece o género, este caracteriza-se por estórias convolutas, carregadas de fios narrativos concorrentes que trabalham em conjunto para moldarem um mundo rico e onde as surpresas são uma constante. A isto, juntem um império galáctico, uma série de raças alienígenas, cada qual com a sua cultura e especificidades, acção a rodos e têm os ingredientes básicos de uma boa space opera.

É nesta tradição literária que Mass Effect se enquadra. E não usamos a palavra literária de ânimo leve. A Bioware abordou a narrativa de Mass Effect como se de um livro se tratasse, não se limitando a contar uma estória, mas criando todo um universo onde o jogador se movimenta livremente. Isto cada vez mais notório à medida que nos deixamos envolver pelas personagens e locais com que contactamos. Cada uma delas traz consigo uma personalidade única e uma agenda muito própria, que dá corpo a todo jogo, como se de um bom vinho se tratasse.

No entanto, como com qualquer jogo que se preze, Mass Effect tem uma estória principal que dá mote à acção. Assumimos o papel de Sam Sheppard – ou de uma personagem por nós criada – numa missão a Eden Prime, planeta sob a alçada da aliança humana onde foi descoberto um artefacto alienígena de imenso valor. O que aparentava ser uma missão de rotina, cedo se transforma num pesadelo quando Saren, um operativo das forças especiais Spectre, ataca a colónia e tenta apoderar-se do artefacto. Como se fica a saber após pouco tempo, Saren está a tentar trazer de volta os Reapers, uma raça de sintéticos responsável pela eliminação das civilizações galácticas há 50000 anos atrás. A nossa missão, como é óbvio, será travar Saren, assim como lidar com quaisquer surpresas que surjam pelo caminho.

E estas serão muitas, se tiverem em conta que existem literalmente centenas de missões secundárias em que podem embarcar. Desde ajudar uma jornalista a conseguir o seu furo a vender e comprar segredos de estado, quase tudo é possível, contribuindo para a sensação de que estamos dentro de um mundo vivo e em constante mutação. Para isto contribuem também os excelentes diálogos presentes em Mass Effect. Se decidirem explorar a fundo todas as opções de diálogo que vos são oferecidas, serão brindados com horas e horas de áudio da melhor qualidade, com um trabalho de vozes fenomenal na grande maioria das situações, onde só é pena o facto de não estarem legendadas em português, o que pode tornar este jogo inacessível a muitos. O sistema de escolha de respostas é simples e funciona em pleno. Interessante é ver que as opções de resposta aparecem alguns segundos antes do nosso interlocutor parar de falar. Se seleccionarem a vossa resposta rapidamente, não há pausas nos diálogos, o que contribui para uma experiência quase cinematográfica. Isto é importante, já que passaram muito tempo em conversa. Aliás, quem está à espera de um jogo com muita acção, pode sentir-se desiludido com as primeiras horas de Mass Effect, já que nesta fase inicial a quantidade de exposição e informação é gigantesca, relegando a acção para segundo plano.

Mas quem espera sempre alcança, e vão ter oportunidade de entrar em imensas escaramuças. Aqui, a Bioware tentou inovar e oferecer uma experiência bastante diferente do cânone da companhia. Abandonando os combates por turnos, a acção desenrola-se agora como num comum atirador na terceira pessoa, em tempo real. Mas não pensem que podem entrar a matar. As habilidades de cada membro do nossso grupo são cruciais e têm de ser usadas com critério. Para isto, podem pausar o jogo e seleccionar a habilidade pretendida recorrendo a um sistema de menus radial, que funciona bastante bem. Pena que a inteligência artificial não corresponda às possibilidades oferecidas pelo sistema. Os inimigos tendem a correr em direcção do cano das nossas armas sem pensarem na sua segurança. Mesmo assim, existem em Mass Effect alguns combates dignos de filmes de acção.

Para além dos combates mais comuns, poderão também controlar o veículo de abordagem da SSV Normandy em aproximações planetárias. Dotado de um poder de fogo impressionante, é uma excelente opção se não querem entrar em confrontos mais complicados. Dito isto, também o combate veicular não está isento de problemas. É impossível regular a mira do nosso bólide em altura, o que por vezes torna quase impossível atingir alvos mais pequenos ou velozes. O controlo deste mastodonte também deixa algo a desejar, não conseguindo transmitir a sensação de peso do veículo.

Como em qualquer RPG, o equipamento será essencial para ultrapassar os diversos obstáculos que o jogo nos oferece. Aqui, a escolha é vasta, e podemos equipar todos os membros da nossa equipa a rigor, escolhendo as suas armaduras e armas. Para além disto, é também possível melhorar quase todas as peças que usamos, através de módulos intermutáveis. Como já é habitual nas obras da Bioware, tudo o que equipamos reflecte-se nas personagens, alterando o seu aspecto.

Se há algo importante na criação de um universo alienígena, é a forma como este é desenhado à frente dos nossos olhos e aqui, Mass Effect não falha. Os ambientes que encontramos são extremamente variados, ou não visitássemos imensos planetas diferentes. Estruturas imponentes, metrópoles ultra modernas, ou mesmos bosques e florestas onde a vegetação impera, todos estes elementos estão bem conseguidos. Outro detalhe de luxo prende-se com os movimentos labiais durante os diálogos que são quase perfeitos. Nas cenas mais movimentadas ou em áreas gigantescas, são notórios alguns abrandamentos e texturas que demoram a aparecer, mas nada que prejudique a experiência de jogo de forma irreparável.

Mass Effect, mesmo não sendo o melhor jogo de ficção cientifica no mercado é, sem dúvida, dono de uma das melhores estórias do género alguma vez criadas. Só por isto já merece a atenção de todos aqueles que gostam de narrativas intrincadas. Por outro lado, o brilhantismo gráfico e todo o trabalho dispendido na criação de um mundo multicultural e em que há sempre algo a acontecer merece o nosso respeito. Uma das obras de referência da Bioware e um título a não perder neste Natal.


AVALIAÇÃO total

10

muito otimo

Centenas de missões
Ambientes extremamente variados
Estória fenomenal
Vocalizações de luxo
Inteligência artificial deixa muito a desejar
Ritmo um pouco lento para quem procura jogos com mais acção
A ausência de legendagem em português pode torná-lo inacessível a muitos devido aos

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